Angola

Perfil do país e dados gerais da visita

Contextualização do Cenário de Angola

Angola, localizado na costa ocidental do continente africano e composto por 18 províncias, possui uma população estimada de aproximadamente 36 milhões de habitantes, distribuídos de forma desigual entre áreas urbanas e rurais. Luanda, capital e maior centro urbano, concentra grande parte da população, marcando intensas desigualdades sociais e de acesso aos serviços públicos.

A diversidade sociocultural do país é expressiva, com a presença de grupos etnolinguísticos como Umbundu, Kimbundu, Kikongo e Tchokwe, além do português como língua oficial, o que imprime caráter multilíngue às interações sociais e aos serviços públicos. O clima angolano se divide em duas estações principais, seca e chuvosa, influenciando a mobilidade, a oferta de serviços e as dinâmicas comunitárias.

No campo da saúde, conforme discutido por Caneca et al. (2021), o Sistema Nacional de Saúde (SNS) de Angola foi profundamente moldado pelos impactos do longo período de conflito armado, que comprometeu estruturas institucionais, capacidades administrativas e a organização dos serviços. A partir da reconstrução pós-guerra, o país estruturou formalmente o sistema em três níveis, atenção primária, secundária e terciária, sob coordenação do Ministério da Saúde, que passou a exercer papel central na reinstalação de mecanismos de gestão, políticas de saúde e expansão da rede assistencial.

Apesar desse avanço normativo e organizacional, a Atenção Primária à Saúde (APS), considerada eixo estruturante do SNS, enfrenta limitações significativas. Segundo Caneca et al. (2021), o país convive com insuficiência de recursos humanos, desigual distribuição geográfica de profissionais, precariedade de infraestrutura, carência de insumos essenciais e fragilidades na articulação entre os níveis de atenção. Essas dificuldades fazem com que grande parte da população busque diretamente serviços hospitalares, distanciando-se do modelo ideal de porta de entrada pela APS.

Outro ponto destacado pelos autores é a concentração de serviços e investimentos em Luanda, que aprofunda desigualdades territoriais e compromete o acesso equitativo ao cuidado. A baixa cobertura de saneamento básico, aliada à irregularidade no abastecimento de água, agrava o quadro epidemiológico, especialmente nas províncias mais periféricas e rurais.

Nesse cenário, Caneca et al. (2021) enfatizam a necessidade de fortalecer políticas públicas orientadas pela APS, com foco na ampliação da formação de quadros técnicos, reorganização das redes de serviços, qualificação da gestão e desenvolvimento de estratégias de cooperação internacional. Esses esforços são essenciais para enfrentar a carga persistente de doenças infecciosas, condições crônicas e agravos negligenciados, contribuindo para o avanço do sistema de saúde angolano como um todo.

Contextualização da Visita Técnica  

A desinformação em saúde constitui um desafio global com impactos diretos na adesão às práticas de prevenção, no acesso oportuno a tratamentos e na confiança da população nas instituições sanitárias. O cenário se torna ainda mais sensível em contextos de emergências de saúde pública, como evidenciado durante a pandemia de COVID-19, quando a circulação de conteúdos imprecisos ou falsos comprometeu respostas coletivas e a coordenação entre serviços. Nesse contexto, o projeto internacional “Estudo comparativo sobre o papel dos profissionais da Atenção Primária à Saúde na prevenção da desinformação em saúde” reúne pesquisadores de Brasil, Angola, Argentina, Cabo Verde, Chile, Colômbia, Espanha, Guiné-Bissau, México, Moçambique, Peru, Portugal e São Tomé e Príncipe para compreender como a APS pode atuar no enfrentamento desse fenômeno.

A missão técnica em Angola ocorreu entre 03 e 09 de novembro de 2025, realizada pela mestranda Dayara Dutra e pelo Prof. Dr. José da Paz, com o objetivo de fortalecer parcerias institucionais, apresentar o projeto às autoridades locais e conduzir coletas de dados quantitativas e qualitativas com profissionais da Atenção Primária à Saúde. Além de integrar Angola ao conjunto de países participantes, a visita possibilitou mapear especificidades da organização da APS no contexto angolano e identificar estratégias locais para prevenção da desinformação.

As atividades foram viabilizadas com o apoio do Senhor Elísio Lopes, Diretor Provincial de Saúde de Luanda, que autorizou formalmente a entrada da equipe nas unidades de saúde e acompanhou parte das discussões sobre a pesquisa. Também houve articulação com a Faculdade de Medicina da Universidade Agostinho Neto (UAN), que passou a integrar o trabalho de campo por meio da participação de médicos monitores, contribuindo para a coleta de dados, a consolidação de parcerias e o fortalecimento do intercâmbio internacional previsto pela Rede Práxis.

Narrativa Detalhada das Atividades  

Dia 03/11/2025 – Chegada e articulações iniciais

Chegada da equipe ao aeroporto 04 de fevereiro, recepção pelo motorista Alexandre e início da organização logística. Após hospedagem, deslocamento à UAN para reunião com a direção e monitores. Encerramento do dia com reunião remota com equipe brasileira, esclarecendo entraves institucionais e confirmando a autorização do Diretor Provincial de Saúde para início das coletas.

Dia 04/11/2025 – Início das coletas no Centro de Saúde 04 de Fevereiro 

A equipe foi recebida pela direção do Centro, que ofereceu espaço reservado para entrevistas. Foram realizadas coletas quantitativas e qualitativas ao longo do dia, com apoio da diretora Teresa Muassenha e equipe local.

Dia 05/11/2025 – Coletas no Centro de Saúde da Samba e reunião na UAN

Manhã dedicada à coleta com profissionais do Centro de Saúde da Samba. À tarde, reunião com direção e monitores da UAN, seguido de treinamento teórico sobre coleta de dados. Pactuação da participação dos monitores como entrevistadores.

Dia 06/11/2025 – Coletas simultâneas em duas unidades

Retorno ao Centro de Saúde 04 de Fevereiro pela manhã e redistribuição da equipe no período da tarde para complementar coletas no Centro de Saúde da Samba. Coletas via instrumento online devido à queda de energia na unidade. Participação ativa dos monitores.

Dia 07/11/2025 – Atividades no Hospital Municipal de Talatona

Coletas realizadas com apoio da direção do hospital e participação de seis monitores da UAN. Treinamento prático reforçado no início da atividade. A direção ofereceu almoço típico (feijoada) como forma de acolhimento. Ao final do dia, a equipe presenteou a direção com materiais institucionais.

Dia 08/11/2025 – Encerramento e atividades culturais

Reunião oficial com o Diretor Provincial de Saúde, Senhor Elísio Lopes, para devolutiva preliminar e agradecimento. Em seguida, visita à feira de artesanato e ao Museu Nacional da Escravatura. Encerramento das atividades com almoço e despedida do motorista Alexandre.

Considerações Finais  

A visita técnica a Luanda possibilitou compreender, de maneira aprofundada, os desafios e potencialidades da Atenção Primária no contexto angolano, fortalecendo laços institucionais, ampliando a capacidade de coleta de dados e consolidando uma rede colaborativa entre Brasil e Angola. O acolhimento das equipes locais, a participação ativa dos monitores e o apoio das autoridades foram determinantes para o êxito da missão.

A experiência somou conhecimentos técnicos, sensibilidade cultural e fortalecimento das relações de cooperação internacional vinculadas ao projeto.

Referências 

Caneca, A. M. J., Chaximbe, O. C. M., & Sarreta, F. de O. (2021). Sistema de Saúde em Angola: contextualização, princípios e desafios. Revista Angolana De Ciências, 3(2), 350-370.

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