No contexto de uma pandemia, além de isolamento social, higienização frequente e um sistema de saúde que consiga atender a todos, informação e comunicação de qualidade também são essenciais. Com o objetivo de escutar as principais demandas e dificuldades comunicacionais nos estados brasileiros frente à anormalidade deste momento, o Laboratório ECoS, em parceria com o Conselho Nacional de Secretarias de Saúde (Conass) realizou uma webconferência em que comunicadores de assessorias estaduais de comunicação puderam compartilhar estratégias, experiências e ideias colocadas em prática em cada um desses estados para um trabalho articulado e integrado de comunicação frente à pandemia de Covid-19.
Além dos assessores estaduais, a atividade contou com a participação dos representantes da Comunicação do Conass, o gerente Marcus Carvalho e as jornalistas Adriane Cruz e Tatiana Rosa, do secretário executivo da Instituição, Jurandi Frutuoso. A moderação foi realizada pela coordenadora do ECoS, professora Valéria Mendonça que, por sua vez, contou com o apoio das sanitaristas Luana Dias e Natália Fernandes para a sistematização das informações discutidas na reunião para posterior trabalho, mais uma vez em parceria com o Conass, no plano de comunicação. A estudante de graduação em Saúde Coletiva, Suane Dias e a jornalista que vos escreve, Ádria Albarado, também acompanharam os trabalhos.
Adriane Cruz, jornalista do Conass, explicou que a iniciativa foi agendada após provocação de comunicadores nos estados sobre a necessidade de conversar sobre o colapso do Sistema e sensibilizar gestores sobre a mudança de tom neste momento. “Falar do colapso, de mortes e do caos talvez seja necessário neste momento, assim como intensificar a prevenção e tratar a comunicação da maneira mais estratégica que consigamos. Sabemos da forte demanda da imprensa e das outras frentes, nossa intenção é auxiliá-los e a maneira que encontramos foi abrir esse espaço para que pudessem dizer quais os problemas, as principais dificuldades, o que é possível fazer, o que ajuda, o que dificulta”, disse durante a webconferência.
Valéria Mendonça, coordenadora do ECoS, destacou que o papel do Laboratório, assim como o da Universidade, é estar ao lado de instituições estratégicas e de representatividade nacional como o Conass, bem como ao lado de pessoas que fazem com que ele tenha vida, ou seja, consultores e assessores técnicos, auxiliando da melhor maneira que podem na consolidação do sistema, no aporte de uma boa comunicação, de qualidade, transparente, ética, solidária, para que chegue no apoio a tomada de decisão SUS e aos profissionais de saúde, de comunicação e à toda população.
O papel da comunicação foi bastante ressaltado pelos participantes. Para Jurandi, a comunicação é um dos desafios do Sistema Único de Saúde (SUS) e os gestores precisam compreender a importância e o propósito dela para a execução da boa política em cada uma das secretarias de estado. “Sem uma boa comunicação vamos trabalhar mais e render menos, pois estamos sempre atuando no sentido de reagir a alguma matéria quando deveríamos sendo proativos, fazer essa ação acontecer em maior velocidade, com menos sacrifício pelo fato da sensibilização já ter acontecido. Há uma necessidade forte agora de uma articulação e da união de todos. Não dá para vencer um inimigo desse porte, que vai trazer um dano muito grande ao país, numa situação que sabemos quando começou, mas não sabe quando termina”.
Marcus pontuou quanto a relevância da qualidade da comunicação para diminuir os danos da pandemia. Conforme ele, é necessário comunicar de forma que a população entenda a situação e saiba que o SUS funciona e está sendo expandido e que as assessorias estaduais são fontes seguras de informações. “É importante que tenhamos conteúdo, mostremos as ações realizadas nos estados. Precisamos alinhar e dar um fluxo melhor a essas informações para a população ver o SUS se movendo para atendê-los em meio à pandemia”.
Os assessores do Conass fizeram questão de enfatizar o apoio da Instituição nas ações dos estados e prometeu intensificá-lo. “Vocês não estão sozinhos. Precisamos nos apoiar e contar com parceiros importantes e gestores do SUS, com a UnB”, afirmou Marcus. Adriane explicou que a partir dos relatos e do levantamento de mídia e das ações dos próprios assessores estaduais que a equipe está fazendo, o próximo passo é compartilhar um documento orientador que extrapola um plano de comunicação de risco em alguns aspectos. “Conseguir traduzir as linguagens técnicas dos diversos setores envolvidos para os diferentes públicos e tentar nos colocar dentro do contexto como sujeitos ativos e ocupar nosso lugar de comunicadores”.

Orientações compartilhadas

Algumas dicas e orientações compartilhadas na webconferência são de extrema relevância para o trabalho dos comunicadores nos estados:
– Desenvolver ações no estilo de cada região brasileira;
– Estar próximo às equipes de vigilância epidemiológica.
– Buscar parcerias com a Defesa Civil para o sistema de SMS;
– Relembrar a importância das rádios, principalmente as pequenas, por não terem capacidade de produção de conteúdo. Então, deixar material gravado como orientações, entrevistas para essas rádios baixarem funciona muito bem.
– Criar área específica sobre Covid-19, separando decretos e normativas para facilitar o acesso da imprensa e diminuir a demanda por respostas;
– Criar um FAQ com as principais perguntas e respostas quanto ao tema;
– Ser transparente, por mais difícil que seja a situação;
– Reforçar as ações de prevenção, em especial com campanhas midiáticas.

Pablo Barbosa, assessor de comunicação da Secretaria de Saúde da Bahia, relatou as ações do equipe do estado frente à comunicação no contexto da pandemia. Eles realizaram pesquisa sobre como outros países realizaram a comunicação governamental sobre o Covid-19. Os dados preliminares demonstraram que há cinco fases na linha de evolução do conteúdo divulgado: 1) isolamento horizontal; 2) a fase de testes; 3) pico de atendimento; 4) estabilidade ou decréscimo do número de casos; e, 5) isolamento vertical. Conforme o assessor, as campanhas no estado começaram com “fique em casa”, mas no momento falam sobre a capacidade de leitos e as mortes em decorrência da doença.

Comunicação do Medo

A discussão sobre a efetividade da comunicação do medo foi levantada. A professora Valéria pontuou quanto ao sério agravante em utilizá-la, em especial pelas crises de saúde mental que decorrem do momento de epidemia e envolvem confinamento; risco iminente de morte e contágio; ausência de leitos de UTI e de vacina; dos testes e da subnotificação dos casos. Para ela, a comunicação do medo causa aversão aos meios de comunicação por parte das pessoas. “Elas deixam de assistir televisão, de ouvir jornais, pois são sempre notícias ruins, apelativas, com casos de mortes, dor, imagens muito violentas, trata-se de uma sociedade neófita em casos de pandemia, que tendem ao medo e ao sofrimento mental. “A crise e o medo são muito intensos, por isso a reflexão sobre a efetividade e ou se a comunicação do medo afasta as pessoas, pois esse medo não recai sobre as elites, ele recai sobre a população mais pobre, que muito mais que o medo de contrair o vírus ou morrer na UTI, tem medo de ficar sem comida, sem emprego, sem ter onde morar. Mais que por medo, podemos criar associações que deixamos de lado, como igrejas e associações comunitárias. Temos estratégias para massificar informações por meio de uma comunicação que pode ser cuidadosa”.